Littieri Machado Lamb na Aula inaugural do Stipendium Hungaricum na Hungria

Stipendium Hungaricum: dicas para ganhar a bolsa de estudos na Hungria

Bolsistas do programa Stipendium Hungaricum de bolsa para estudar na Hungria

O programa Stipendium Hungaricum Brasil oferece bolsas para estudar na Hungria em diversas modalidades. São opções para graduação, mestrado, mobilidade acadêmica, doutorado e cursos de especialização.

A Littieri Lamb, de 27 anos, é de Capão do Cipó, no interior do Rio Grande do Sul e hoje faz mestrado em Arquitetura na Hungria, na Budapest University of Technology and Economics (BME, na sigla em húngaro) com bolsa do programa. Ela me escreveu para contar mais da experiência e dar dicas para quem tem interesse na bolsa e a história dela é um ótimo lembrete que aluno de universidade particular pode conseguir bolsa de estudos no Exterior, sim!

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Mas a história começa bem antes da bolsa do Stipendium Hungaricum…

A Littieri é de uma família de pequenos agricultores em que, nas últimas sete gerações ninguém terminou o ensino fundamental. Para família da arquiteta, terminar o Ensino Médio já era um feito enorme. Afinal, para família Lamb era a escolha mais difícil: por morar na zona rural, para chegar na escola, as crianças precisavam acordar por volta das 5 da manhã e andar cerca de 1 km no escuro para chegar no ponto do ônibus que leva até a escola pública de Ensino Fundamental mais próxima. Do 5o ano até o final do ensino médio, as dificuldades eram as mesmas, porém o processo todo levava “apenas” 2 horas porque ela não precisava andar tão longe para pegar a condução para a escola. Com tantos empecilhos para conseguir exercer o direito à educação, não espanta que tantas pessoas na região não tenham nem o Ensino Fundamental completo.  “Dos pouco mais de 30 alunos da minha turma de ensino médio, até o dia de hoje, só três concluíram Ensino Superior”, conta Littieri.

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Para fazer faculdade, a jovem precisou sair da cidadezinha de 7 mil habitante e se mudou para Santiago, na região central do Rio Grande do Sul. Littieri sempre estudou em escola pública e, para se manter no curso de Arquitetura da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), mesmo com o financiado pelo FIES ela precisou trabalhar durante a toda a faculdade. Os custos para se manter estudando eram altos: “quando não estava na faculdade estava trabalhando. Eram alternados três turnos (para chegar em casa e estudar na madrugada), eu vivia cochilando pelos cantos”, relembra. Apesar de ter se adaptado à prórpia realidade, a arquiteta nunca se conformou e resolveu começar a aprender inglês por conta própria para um dia poder morar fora ou fazer intercâmbio. “Decidi que ia aprender inglês de verdade para passar no IELTS (meados de agosto de  2012) e meus únicos materiais disponíveis eram o google e boa vontade, estudei em casa por conta própria”, explica. Foi aí que o intercâmbio na Hungria mudou a vida da gaúcha.

Estudar na Hungria de graça com bolsa do CSF

Era 2013,  já com seu certificado B2 de inglês ela aplicou para estudar na Hungria de graça com bolsa do Ciência sem Fronteiras sem contar para ninguém. Littieri foi a primeira aluna da sua universidade ser selecionada para o programa do governo brasileiro. A escolha pela Hungria acabou sendo por conta do nível de inglês. “Sou 90% autodidata e, na época, o CSF oferecia um curso intensivo de línguas de curta duração na BME ligado ao ano de intercâmbio acadêmico”, conta. Já com tudo certo para o intercâmbio com bolsa 100% financiada pelo governo Brasileiro, Littieri precisou de muita maturidade para explicar para os pais que aquela era uma oportunidade legítima e não um esquema de tráfico de pessoas como o de Salve Jorge, a novela das oito que fazia muito sucesso na época mostrando a história de diversas mulheres simples que aceitaram “trabalhos no exterior” e acabaram sendo traficadas e exploradas.

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Mesmo sem conseguir convencer a família completamente da legitimidade do programa para estudar no exterior com bolsa completa, Littieri embarcou para a bolsa de estudos na Hungria. “Minha família é muito simples e aquilo tudo parecia ser bom demais, isso sem contar o medo que eles tinham de algo acontecesse em um país tão longe cuja língua eles não falam”, pondera. Essa decisão mudou a vida dela para sempre. Anos mais tarde, recém-graduada, ela se candidatou para mestrado na Hungria com bolsa do Stipendium Hungaricum e a conversa com a família foi mais simples: “meu pai conta para as pessoas com orgulho”. Em 2020, Littieri deve terminar o Msc in Architectural Engineering na Budapest University of Technology and Economics, onde ela também atua como student ambassador do programa “Campus Buddy” para integrar alunos brasileiros e de outros países recém-chegados na Hungria.

Littieri Machado Lamb na Aula inaugural do Stipendium Hungaricum na Hungria
Littieri Lamb na aula inaugural do Stipendium Hungaricum

Como ganhar a bolsa Stipendium Hungaricum Brasil

O processo de inscrição do programa Stipendium Hungaricum permite a escolha de três cursos dentro da disponibilidade do programa. O Msc in Architectural Engineering da BME foi a primeira opção da Littieri justamente por ela conhecer a universidade e ter passado um ano lá. Segundo a bolsista do programa, a seleção em si é relativamente simples. “A primeira fase é basicamente entregar documentação mencionada no edital, seguidas de prova (difere para cada área de conhecimento e nível) e entrevista”, explica. Vale lembrar que para cursos como artes e arquitetura há exigência de portfólio para a candidatura no programa na Hungria. Para a Littieri, só o processo de coleta de documentos, tradução juramentada e apostilamento levou cerca de um mês e meio. Em paralelo ela organizou o portfólio para arquitetura, que exigiu curadoria, adaptação e diagramação. Além disso, ela precisou refazer a prova de proficiência em inglês, afinal já fazia mais de três anos que ela estava de volta no Brasil depois do Ciência sem Fronteiras sem falar uma palavra de inglês. “O fato de morar no interior RS, em uma cidade muito pequena, dificultou o processo e a acessibilidade a recursos simples como tradutores, emissão de passaporte, proficiência, no entanto deu tudo certo”, comenta.

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A entrevista do Stipendium Hungaricum

Como qualquer entrevista de processo seletivo, ela usada basicamente para tirar qualquer dúvida que tenha ficado da sua candidatura e também para ter certeza que foi você mesmo que escreveu todo o materia. Então, o fundamental da preparação para a entrevista do Stipendium Hungaricum é reler todo seu application  para que você consiga revalidar sua motivação e rever aspectos marcantes da escolha da universidade, do curso e do país. No caso da Littieri, perguntaram sobre a relação com o país e a motivação de querer voltar para estudar lá por dois anos. Vale lembrar que o processo de admissão da universidade e da bolsa pelo Stipendium Hungaricum é integrado. “Foram emitidas duas cartas de aceite enviadas (da universidade e da bolsa de estudos) por email com dois dias de diferença”, comenta.

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O custo de vida na Hungria

A Littieri mora em Budapeste, capital da Hungria. Como a maioria das capitais, Budapeste é uma cidade bastante turística, cheia de eventos e atrações. Ainda assim a Hungria tem um custo relativamente baixo em relação a outros países da Europa e, segundo a Littieri, em alguns setores mais barato que o Brasil. A bolsa do Stipendium Hugaricum oferece 83.700 forints mensais (por volta de 250 euros) estudantes de graduação e mestrado. Esse valor é pago mensalmente para contribuir com custos de vida na Hungria. O doutorandos bolsistas na Hungria recebem mais: 180.000 forints mensas (por volta de 430 euros). A bolsa ainda oferece isenção de pagamento das taxas semestrais da universidade (tuition fees), isenção da taxa expedição de visto e seguro saúde durante o período de bolsa.

A bolsa Stipendium Hungaricum é suficiente para morar na Hungria?

De acordo com a Littieri, é possível viver na Hungria com o valor da bolsa de estudos, porém de forma muito restrita.  Por conta disso, a estudante conta que se preparou financeiramente para poder se manter.  “Abri mão das comemorações de formatura da graduação e usei todo dinheiro que tinha guardado (trabalhando como estagiária) para poder custear o que não estava incluído na bolsa de estudos”, explica. Como o visto de estudante permite 24 horas semanais de trabalho, ela consegue contribuir com o orçamento com trabalhos esporádicos como freelancer.

Stipendium Hungaricum Littieri Machado Lamb O Parlamento Hungaro e meu filho Bowie
Littieri no Parlamento Hungaro com o Bowie, seu cãozinho 🙂

Quanto custa estudar na Hungria?

Caso alguém esteja considerando estudar na Hungria sem bolsa de estudos, é importante saber que a maioria dos cursos sai entre 2,5 mil e 3,5 mil euros por semestre para brasileiros sem cidadania europeia. O valor para cidadãos europeus é um pouco menor e fica entre 1750 e 2,5 mil por semestre. Os valores podem aumentar um diminuir um pouco dependendo da universidade e do tipo de curso. A Littieri ainda comentou que o salário médio do mercado fica por volta de 900 euros em Budapeste e 700 euros no resto da Hungria. “Então, arrisco dizer que não é possível trabalhar e estudar sem um planejamento econômico prévio”, alerta. Além disso, as ofertas na universidade de vagas para estudantes são muito raras e geralmente reservadas aos acadêmicos húngaros.

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Dicas para quem quer a bolsa Stipendium Hungaricum Brasil

As dicas da Littieri para quem quer tentar ganhar a bolsa Stipendium Hungaricum são dicas muito importantes e que, na realidade, valem para qualquer pessoa que quer aplicar para qualquer bolsa de estudos: ler o edital, não desistir depois de um não e ter confiança. “As dúvidas mais recorrentes estão respondidas no edital e no FAQ da pagina do programa. Ser confiante é 50% do processo, os outros 50% são esforço. Organização é muito importante, mas insistência é mais importante. Tente quantas vezes forem necessárias”, indica.

Outro ponto importante para quem nunca considerou a Hungria como destino e que a Littieri considera importantes é saber que: o país é super seguro, o acesso a outros países e a ambientes multiculturais é vasto na Europa e “transforma por completo a nossa percepção de mundo”, aprender húngaro é muito, muito, muito difícil e “apesar de muitas pessoas pessoas falarem inglês, ainda existem as situações engraçadas que envolvem mímica”, brinca a estudante da BME.

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Atenção para os One Tier Masters ou OTM na Hungria

Outro fator muitíssimo importante, principalmente para quem quer fazer mestrado, é entender o que é um curso OTM (o One Tier Master da Hungria). Na Hungria, assim como em muitos outros países, profissões que precisam de registro como arquitetura, engenharia, medicina, odonto, farmácia e outras, na Europa, elas possuem graduações de cinco anos e não de três anos como todos os outros cursos. É um caso parecido com o de mestrado integrado em Portugal, Para a Littieri, isso significou “ter que reaprender muita coisa referente a arquitetura no que diz respeito a técnicas construtivas e cálculo devido a legislação e fatores ambientais”, mas sempre atribui uma carga horária mais pesada para o estudante já que no curso dela os alunos passam por exames globais, “que são exames que se faz quando se termina um módulo de disciplinas, por exemplo, tem que passar em seis disciplinas de building construction e no final tem um exame global composto de prova teórica, prática e oral”, explica.

Meu muito obrigada para a Littieri por dividir a história dela comigo e com vocês e aproveito pra lembrar que as inscrições para as bolsas do Stipendium Hungaricum abrem sempre um pouco antes do fim ano e se encerram em meados de janeiro. O edital completo do programa vocês podem consultar aqui no Partiu Intercâmbio.

Precisa de ajuda para candidatar em bolsas na Europa?

Nessa live, você pode ver nossa conversa com mentorados do Partiu Intercâmbio aprovados em diversos programas de bolsa de estudos na Europa. O Rafael Valverde, turismólogo, estuda relações internacionais na Hungria com bolsa do Stipendium Hungaricum na Pécs Univestity e deu dicas sobre os cursos inscrição e outros detalhes. Caso você precise de ajuda na candidatura, veja mais sobre a mentoria do Partiu Intercâmbio e assista nossa live abaixo

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Sobre o autor

Bruna Passos Amaral

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Quem faz?

Bruna Passos Amaral é jornalista, viajante, entusiasta da educação e apaixonada por idiomas. Na bagagem, são nove intercâmbios – dois nos Estados Unidos, seis na Alemanha e um na Finlândia – e passeios por diversos países. Participe, mande relatos, perguntas ou sugestões. Os comentários no site são sempre respondidos!

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