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FLTA na Towson: os 13 choques culturais do intercâmbio nos EUA

Chegou a hora que todo o blogueiro ou colunista ou jornalista espera: fazer uma lista. Nesses meus cinco meses morando em Towson/Maryland, listo meus 13 principais estranhamentos durante o intercâmbio nos EUA em relação ao Brasil.

Bolsas nos Estados Unidos

Os 13 maiores choques culturais no intercâmbio nos EUA

A lista não tem uma ordem lógica ou hierárquica, mas, de fato, são os meus maiores choques culturais. Obviamente a lista é pessoal: se meus colegas fizessem uma lista sobre seus maiores estranhamentos durante o intercâmbio nos EUa também, nenhuma estaria igual. Lembro ainda que falo como homem branco de classe média que morou por mais de 30 anos no Rio Grande do Sul.

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1) Comida

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Dificuldades no supermercado no intercâmbio nos EUA. Foto: Nathalia Rosa / Unsplash

Desde o intercâmbio nos EUA, estou valorizando muito mais a comida brasileira. Aqui tudo é gorduroso. Ou frito. Ou com muito sódio. Ou extremamente doce. Ou com muita pimenta. Ou em uma salada super natural, inventam um molho para injetar calorias. Nem o que é pretensamente natural se salva. As poucas frutas e verduras no mercado não tão saborosas quanto no Brasil.  Um dia comi uma laranja cujo sabor parecia uma água com sabor de laranja. A primeira vez que fui fazer compras, no Walmart, perguntei a uma atendente onde eu poderia achar frutas. “Estão todas aqui!” me disse apontando para uma prateleira com abacaxis, cerejas e pêssegos. Tudo enlatado.

O hábito alimentar dos americanos também é algo que me assusta. Muitas vezes as pessoas estão dirigindo, olhando para o celular e devorando um sanduíche com um balde de café ao lado, simultaneamente. O nosso almoço com arroz e feijão todos os dias? Não existe. Almoço nem é importante aqui.

Para fazer justiça, as frutas vermelhas aqui são ótimas e baratas

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2) Intercâmbio nos EUA = pouca mobilidade

Já reclamei disso. As ruas são muito largas e há pouca gente caminhando pelas ruas, comparado ao Brasil. As cidades são projetadas para os carros. Aliás, ir no mercado a pé é motivo de desconfiança. É bizarro como tem lugares com muitas residências mas nenhum comércio do tipo lanchonete ou venda. Como é barato abastecer e ter carro aqui, algumas pessoas não fazem questão de caminhar.

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3) Embalagens plásticas

Um amor inexplicável por embalagens. Não é à toa que os Estados Unidos é o país que mais produz lixo no mundo. Até mercados ditos sustentáveis, que cobram pelas sacolas plásticas, não estão livres, porque muitas frutas e verduras são vendidas apenas nas embalagens. Se aqui fosse vendido plástico, ele estaria embalado em plástico.

Na maioria dos restaurantes os talheres são de plástico. Em um almoço do departamento, me falaram que tudo aqui é feito para facilitar a vida. Então para que ter trabalho lavando e reutilizando os talheres? Isso está conectado com o próximo item:

4) Relações (com pessoas e com as coisas)

As relações são vazias, fugazes. Em alguns casos, as relações pessoais soam muito falsas. Com os objetos, isso não é diferente. Um exemplo é ver a quantidade de objetos em bom estado que podemos encontrar no lixo ou em lojas de doações.

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5) Monetização

Os Estados Unidos é certamente o grau mais elevado do capitalismo. Qualquer atividade e produção implica em gerar mais remuneração ou se desdobrar em objetos vendáveis. Até coisas contraditórias, como a arte. Em muitos museus, por exemplo, somos obrigados a atravessar uma loja enorme com souvenires de todas as espécies.

6) Uberização

Essa categoria é uma dicotomia. O ponto positivo é que aqui tem aplicativo para quase tudo. Só na Towson, por exemplo, uso o aplicativo principal da universidade, o aplicativo do transporte e o aplicativo dos eventos. É possível de ter mais e eu não saber. Quando uso o ônibus para Baltimore, me sinto muito tecnológico quando pago a passagem pelo celular.

No entanto, o lado negativo da uberização é que a vivência se torna um pouco Black Mirror. As pessoas parecem ser falsas ao mostrar cordialidade (tudo isso para receber as cinco estrelas?). Além do mais, isso pode ser discriminatório. Mês passado vi um anúncio de um aplicativo para procurar babás, em que as pessoas poderiam solicitar alguém mediante uma foto e avaliações de outros empregadores. Mas será que as avaliações são feitas realmente baseada apenas na eficiência? Da mesma forma que estudos apontam que a gorjeta aqui é discriminatória porque as pessoas levam em conta preconceitos de gênero, raça e nacionalidade para isso, a escolha pode se basear em algo discriminatório. Sem falar na questão dos poucos direitos trabalhistas…

7) Água quente

Eis uma coisa que vai ser difícil eu me desacostumar do intercâmbio nos EUA. Até em banheiros públicos tem água quente aqui. Habituado a sofrer lavando a louça com água gelada no inverno gaúcho, me sinto no paraíso aqui.

8) Unidades de medidas

“Amanhã a temperatura chega a 30 graus”. No Brasil, isso seria um dia comum de verão; aqui, podemos até ter neve. A diferença entre Celsius e Fahrenheit me confunde bastante aqui. Por que raios usar Fahrenheit? Só 7 países o fazem!

Mas não é só isso. Parece que os americanos querem ser os diferentões e usar medidas esdrúxulas em tudo. Para que centímetros se podemos usar inches ou feet? Por quê quilômetros? Milhas é a tendência. Quilos? Google, me ajuda a transformar em pounds ou ounces. Litro de leite no mercado? Só se for 3,78, o que é um galão.

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9) Residências

O lado bom: calefação e triturador do lixo orgânico na pia da cozinha. O lado ruim: janelas difíceis de abrir (aqui de casa elas têm três camadas) e materiais frágeis de compensado nas paredes.

10) Punitivismo

A política aqui é premiar a denúncia alheia, o que pode minar a relação entre vizinhos. Em alguns condomínios, gratifica-se quem denunciar alguém que não limpe os dejetos de seus animais de estimação. Em alguns bairros, há placas enormes lembrando que estamos sendo filmado ou que, se vermos qualquer coisa ou atitude suspeita, devemos denunciar. Nos ônibus aqui de Baltimore há um lembrete que assalto ao motorista causa 7 anos de prisão. Até as notícias sempre são ditas em tom Law and Order. Precaução? Cultura do medo?

11) Breguice

Crocs (ou sandálias) com meias é praticamente uniforme estadunidense. Até eu que não sou ligado muito em moda, notei uma breguice no ar. Minhas impressões foram corroboradas pelo grupo do Whatsapp dos FLTAs brasileiros. Se bem que me sinto bem à vontade assim.

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12) Humor

Observando alguns diálogos (ou até quando americanos falam comigo), percebi que a noção de ironia é um pouco diferente. Após um comentário irônico, parece que as pessoas devem dizer explicitamente que isso era uma ironia. Acostumado com um contrato implícito que o meu interlocutor vai entender a ironia, tive dificuldade em lidar com isso. Além do mais, os memes daqui são bem menos engraçados que os brasileiros.

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13) Saúde

Um sistema público e gratuito de saúde, que oferece acesso integral para toda a população? Só no Brasil. Aqui, se você está doente e não tem dinheiro, você está ferrado, pois aqui as consultas são muito caras. Aliás, até quem tem dinheiro tem problemas. Em 2016, o Nobel em física Leon Lederman teve que leiloar sua medalha do prêmio por $765,000 para pagar despesas médicas. A saúde é um dos principais motivos de endividamento de muitas famílias. Outra consequência é a automedicação: em mercados e farmácias, os remédios são organizados pelos sintomas (febre, tosse, gripe, dor nos olhos, etc.), facilitando essa prática. Até óculos são facilmente vendidos nos mercados, de acordo com o grau, visto que uma consulta custa muitos dólares.

 

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Sobre o Autor:

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João Pedro Amaral é professor de inglês e literatura em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. Seu projeto de letramento audiovisual para alunos de escolas públicas foi vencedor do 11o prêmio professores do Brasil na categoria ensino médio da região sul do Brasil e o levou para conhecer o sistema de educação no Canadá. Em 2019/2020, João vai passar um ano letivo dando aulas de português na Towson University, nos Estados Unidos, com bolsa do programa FLTA da Fulbright.

 

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Sobre o autor

João Pedro

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Quem faz?

Bruna Passos Amaral é jornalista, viajante, entusiasta da educação e apaixonada por idiomas. Na bagagem, são nove intercâmbios – dois nos Estados Unidos, seis na Alemanha e um na Finlândia – e passeios por diversos países. Participe, mande relatos, perguntas ou sugestões. Os comentários no site são sempre respondidos!

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