FLTA na Towson: A mais angustiante das primaveras
Eu queria escrever sobre a primavera: sobre como foi meu spring break (mini férias primaveris). Sobre como é bom sair pra rua quando o frio começa a ser vencido. Sobre como as árvores estão começando a florescer. Sobre como a natureza, com todas suas cores, faz Towson ficar mais bonita. Sobre como foi ver Washington pintada de rosa no festival das cerejeiras.
Eu queria escrever sobre minha viagem que não aconteceu. Sobre como estava frio em Connecticut. Sobre como foi bom rever alguns dos outros FLTAs (Foreign Language Teaching Assistants). Sobre o quão impressionante foi conhecer as universidades nas quais eles dão aula.
Eu queria escrever sobre a declaração de imposto de renda aqui nos Estados Unidos (tax return)– quem diria, eu, que sou um péssimo burocrata. Sobre como é demorado e trabalhoso preencher todos os formulários. Sobre como é ruim ter que enviar uma papelada pelo correio. Sobre como fiz errado a minha primeira declaração e sobre como tive que refazê-la. Sobre como essa reconciliação com a receita federal e estadual pode te fazer receber uma grana do governo ou pagar uns dólares a mais.
Eu queria escrever sobre a universidade: a rotina de ir para o campus no semestre de primavera. Sobre novas atividades. Sobre a mudança de humor com a chegada da nova estação. Sobre como estão as aulas presenciais que estou dando e estou fazendo.
Mas essa primavera foi diferente.
Como uma tempestade que não estava na previsão do tempo, as pessoas foram pegas desprevenidas e as ruas se esvaziaram por conta do coronavírus nos EUA. O semestre de aulas presenciais de todas as instituições de ensino daqui de Baltimore County está cancelado. Boa parte do comércio fechou. Serviços básicos funcionam agora em horários especiais. Nos mercados, produtos de higiene estão em falta. Máscaras e luvas viraram vestimenta necessária.
A pandemia do COVID-19 nos impôs uma quarentena necessária. Agora, o fim do semestre na Towson University vai ser à distância. Minhas aulas são divididas em dois momentos. Nas segundas, envio exercícios, explicações sobre conteúdo/gramática/elementos culturais, atividades e textos pelo Blackboard, plataforma similar ao Moodle adotada pela universidade. Já nas quartas, as aulas são por videoconferência, com conversação ou apresentações. O lado bom de ter aula em casa é que tu pode fazer isso de pijama enquanto assa um pão. O lado ruim é quando, or causa do pão, o alarme de incêndio toca durante a chamada e os alunos não param de rir.
Essa situação implicou no fim antecipado como um FLTA (pelo menos fisicamente, em Towson). Mais ou menos. Como disse Ismael Caneppele, estar perto não é físico. As aulas vão seguir, mas agora lá do Rio Grande do Sul. De alguma forma, ainda me sinto perto dos meus alunos e meus colegas de trabalho.
Devido à pandemia – os EUA bateram o recorde de mais casos confirmados -, muitos voos para o Brasil estão sendo cancelados. Meu retorno era previsto para junho, mas até lá, eu corria perigo de ter meu voo cancelado e meu visto expirar. Ficaria ilegal aqui sem ajuda financeira da Fulbright. Por isso, minha volta foi antecipada para o dia três de abril. Agora só falta resolver minhas pendências: cancelar aluguel, luz, gás, internet e telefone, arrumar minhas malas e combinar minha mudança com minha chefa. Ah, e aproveitar a quarentena pra desenvolver minhas habilidades culinárias e tentar acabar com as comidas que tenho em casa.
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O verão, uma hora ou outra, vai chegar
Esse texto é uma despedida. Um tchau, até logo, adeus. Foi muito bom ter te conhecido. Obrigado. Valeu. Mesmo.
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Como nunca gostei de despedidas, talvez é até melhor assim. Sem uma formalidade, permanece um clima de suspensão, como se eu nunca tivesse saído.
É uma viagem da primavera pro outono. Não teria metáfora melhor. Pra todos nós.
Sobre o Autor:
João Pedro Amaral é professor de inglês e literatura em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. Seu projeto de letramento audiovisual para alunos de escolas públicas foi vencedor do 11o prêmio professores do Brasil na categoria ensino médio da região sul do Brasil e o levou para conhecer o sistema de educação no Canadá. Em 2019/2020, João vai passar um ano letivo dando aulas de português na Towson University, nos Estados Unidos, com bolsa do programa FLTA da Fulbright.
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Sobre o autor
João Pedro
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Quem faz?
Bruna Passos Amaral é jornalista, viajante, entusiasta da educação e apaixonada por idiomas. Na bagagem, são nove intercâmbios – dois nos Estados Unidos, seis na Alemanha e um na Finlândia – e passeios por diversos países. Participe, mande relatos, perguntas ou sugestões. Os comentários no site são sempre respondidos!
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