FLTA na Towson: fugindo do frio nas férias
Junto com as férias, o frio e a neve chegaram em Towson. A primeira vez que vi neve foi no última dia letivo, quando tive que colocar as notas de todos os alunos no sistema da universidade. Mesmo acostumado com o inverno gaúcho, tive (e estou tendo ainda) problemas em lidar com temperaturas diárias abaixo de zero, sol que não esquenta e sensação térmica de -16ºC.
Enfim, a neve é bonita. Confere um charme à paisagem. Mas o glamour é perecível: depois de três ou quatro dias, sair ou caminhar na rua se torna um fardo. Quando mostrei as roupas de inverno que trouxe do Brasil, meus colegas deram risada. Estavam certos. Tive que comprar um casaco grosso, uma bota à prova d’água e um par de luvas. Ainda tive uma ajuda do departamento, pois há um roupeiro que os funcionários podem pegar roupas emprestadas. Sem isso, não iria conseguir aproveitar o recesso.
As férias de cada FLTA variam de acordo com o calendário de cada universidade. Alguns colegas começaram a trabalhar logo no início de janeiro. Eu tive um pouco de sorte porque minhas férias duram pouco mais de um mês, do fim de dezembro até dia 27 de janeiro, o que me permitiu ter tempo e dinheiro (já que continuo recebendo normalmente) para viajar.
Por causa disso também, pude receber aqui da minha namorada. Aliás, uma vantagem de estar morando nos EUA é que isso ajuda na criação do visto de turista para familiares ou amigos. No formulário para fazer o visto, há uma seção em que se sugere um contato de alguém que mora aqui, o que certamente facilita o processo.
Uma banda na costa Oeste
Logo depois da conferência de Washington, passei uns dias em Nova York, destino da maioria dos FLTAs, visto a proximidade das cidades. No entanto, a viagem que vou falar aqui foi uma que fiz pra outra costa dos Estados Unidos, prum estado muito diferente que Maryland. Por nove dias, visitei a Califórnia, mais especificamente as cidades de Los Angeles e São Francisco. Pegamos um avião de Baltimore para Los Angeles, e depois fomos e voltamos de São Francisco de ônibus.
Essas férias me fizeram ver como é fácil e barato viajar dentro dos Estados Unidos, quando comparado ao Brasil. Tanto de avião quanto de ônibus ou trem. Por exemplo, uma viagem de ônibus de Los Angeles para São Francisco (615 quilômetros) custou 5 dólares mais impostos. No Brasil, uma passagem de Santa Rosa a Porto Alegre, rota com distância equivalente, não sai por menos de R$ 200. Há duas razões para as passagens serem mais baratas: a concorrência (muitas empresas fazem o mesmo trajeto); e a não-obrigatoriedade de empresas pegarem os passageiros em uma estação rodoviária. O lado ruim é que alguns desses ônibus (MegaBus, FlixBus, BoltBus, …) param em ruas, rodovias ou estacionamentos longe do centro. Como fizemos essas viagens de madrugada (LA – SF / SF – LA), conseguimos economizar até dois dias de estadia.
Se Nova York é a São Paulo dos Estados Unidos, Los Angeles é certamente seria o Rio de Janeiro. Uma cidade quente e movimentada, cujas principais atrações são as praias. Uma das proeminentes cidades do imaginário coletivo americano, graças a Hollywood. Perguntamos para pessoas que nasceram lá os lugares que precisaríamos visitar: Venice Beach e o píer de Santa Mônica. Depois disso, Hollywood. Como optamos por passeios de baixo custo, a maioria dos lugares envolvia lugares públicos. Ou seja, fomos nos lugares que nos sugeriram. Além disso, visitamos também o Griffith Observatory. É um museu gratuito de astronomia no alto de uma colina (ao lado da famigerada placa de Hollywood) com uma vista espetacular da cidade.
Se você quer visitar os EUA e não sabe falar inglês, mas fala espanhol, Califórnia é um lugar para se considerar. Quase todos os estabelecimentos atendem as duas línguas. Alguns são exclusivamente em espanhol, devido tanto à proximidade com o México quanto aos movimentos migratórios do resto da América para lá. O ameno inverno californiano e os coqueiros nas ruas até lembram o Brasil.
As praias, mesmo com o Pacífico gelado, estavam lotadas. Uma justaposição de imagens que vimos por lá. Gente andando de Santa Mônica a Venice Beach e vice-versa, famílias pedalando em bicicletas de duas ou três pessoas, areia dura, comércio informal, comércio legal de produtos ilegais no Brasil, manobras nas pistas de skate (impossível não fazer relação com as bandas de punk rock ou rock que surgiram lá), pessoas vendendo arte na praia, moradores de ruas, esculturas de areia, gaivotas, bandas tocando na calçada.
Já São Francisco, localizada no norte da Califórnia, as praias não são a atração principal. A cidade conhecida pelas lombas íngremes tem seu maior símbolo a Golden Gate, uma ponte de 1,6 quilômetros inaugurada em 1937. Localizada perto da famosa prisão de Alcatraz – agora desativada –, a ponte é uma materialização de longos anos de estudo, já que pouca gente acreditava, na época, que se conseguiria construir algo que ligasse São Francisco e o condado de Marin. Quando foi construída, a Golden Gate era a mais longa e alta ponte suspensa do mundo.
Os parques e os píeres de São Francisco eram fantásticos. Nos dois parques que conhecemos, Golden Gate Park e Lands End, gastamos um dia todo lá. Ambos eram amplos e acessíveis; espaços que estão sempre ocupados de turistas e moradores. Os píeres também eram movimentos, mas pendiam para uma proposta mais comercial. Perto há uma variante (cópia? copiada?) da rua torta de Gramado. Por uma quadra, a rua Lombardtem seu curso em zigue-zague, o que faz os carros descerem lentamente e atraem pessoas para olharem isso.
Ainda, São Francisco conta dois bairros historicamente famosos: Haight-Ashbury e The Castro. O primeiro foi o lugar onde começou o movimento hippie, na década de 1960, onde surgiram as bandas Jefferson Airplane e Grateful Dead. O Castro, por sua vez, é um bairro símbolo da comunidade LGBTQIA+. Ficou famoso por abrigar Harvey Milk, primeira pessoa abertamente gay a assumir um cargo público na Califórnia (supervisor). Na rua principal do bairro, Milk mantinha uma loja de fotografias, que praticamente era um ponto de encontro da comunidade LGBTQIA+. Hoje, o bairro está repleto de bandeiras de arco-íris. Algumas faixas de pedestres são coloridas.
No entanto, nos bairros e locais que não são turísticos nessas duas cidades são sujos. A primeira pessoa que vimos quando chegamos em São Francisco estava em plena manhã de domingo injetando heroína perto da praça central. Muitos moradores de ruas e muitas pessoas com olhares perdidos, alheias a tudo. Enfim, uma aula sobre gentrificação a céu aberto.
Só lamento não termos tido tempo de andar nos famosos bondinhos de São Francisco. Fica pra outra vida.
Martin Luther King Day
Dia 20 de janeiro foi feriado nacional aqui nos Estados Unidos. Um dos 10 feriados do país, no Dia de Martin Luther King Jr. os americanos celebram o nascimento do líder mais renomado dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Martin ficou conhecido pelo famoso discurso “I Have a Dream”, no Lincoln Memorial, em Washington, em 1963.
Nesse dia, fui para Washington para ver uma passeata na rua que leva o nome dele, bem como uma caminhada da paz. Foi emocionante para mim estar lá, pela importância do evento, sobretudo considerando o contexto político de hoje.
No próximo post, a volta às aulas do semestre de primavera.
Sobre o Autor:
João Pedro Amaral é professor de inglês e literatura em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. Seu projeto de letramento audiovisual para alunos de escolas públicas foi vencedor do 11o prêmio professores do Brasil na categoria ensino médio da região sul do Brasil e o levou para conhecer o sistema de educação no Canadá. Em 2019/2020, João vai passar um ano letivo dando aulas de português na Towson University, nos Estados Unidos, com bolsa do programa FLTA da Fulbright.
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Sobre o autor
João Pedro
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Quem faz?
Bruna Passos Amaral é jornalista, viajante, entusiasta da educação e apaixonada por idiomas. Na bagagem, são nove intercâmbios – dois nos Estados Unidos, seis na Alemanha e um na Finlândia – e passeios por diversos países. Participe, mande relatos, perguntas ou sugestões. Os comentários no site são sempre respondidos!
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