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A melhor coisa que eu aprendi com o intercâmbio
Era setembro de 2003 e eu estava em Düsseldorf, na Alemanha, pela primeira vez. Eu tinha 17 anos e, depois de uma semana indo para a escola e não entendendo absolutamente nada, a única coisa que eu conseguia fazer era chorar. Afinal, por que diabos eu tinha feito aquilo com a minha vida? Tudo no Brasil tava tão bem: eu tinha amigos, ia bem na escola e, acima de tudo, entendia o idioma. Coisa que não estava acontecendo aqui.
Há 12 anos, quando essa ideia maluca de Alemanha começou foi tudo feito meio no solavanco, entre decidir e vir não foram nem seis meses. Eu, uma Passos Amaral, aluna da Escola Estadual Padre Reus, apareci com essa ideia do nada e meus pais acreditaram em mim. Nesses mais de 10 anos entre o dia em que botei meu pé em Düsseldorf sem nem saber dizer Kaputt e hoje, foram muitas idas e vindas. Todo mundo sempre me dizia “dessa vez, a Bruna não volta”. E eu sempre voltei.
Eu sempre soube que voltaria. Sempre tinha deixado algo para trás por completar: estudos, um trabalho que eu amava, uma vida que era minha. Não forcei a barra ou me esforcei pra ficar em nenhuma das vezes que vim e sempre encarei umas caras meio de “meu, que tu tá fazendo aqui?” todas as vezes que voltei. Mas eu deixei as coisas correrem seu curso porque desde sempre, tive dúvidas. Ficar? Voltar? Eu nunca soube o que escolher e acabei nunca fazendo força nem pra um lado ou para o outro. Assim, nos últimos anos, deslizei entre o Brasil e a Alemanha: um ano de colégio, um semestre da faculdade, um curso de idiomas, um estágio e a cereja do bolo: um mestrado.
Se pegar e somar tudo, foram uns cinco anos aqui no total. Essas idas e vindas dos últimos 12 anos me mudaram e me deram o balanço que eu sempre precisei. Eu e a dona Germânia sempre tivemos um relacionamento intenso, porém atribulado. Nunca foi fácil – estar longe nunca é, não se enganem. Fazer esses intercâmbios nunca me deu certezas. Eu sempre corri pra longe de Porto Alegre quando eu não sabia o que fazer e, no lugar de encontrar respostas, só aumentei minhas dúvidas. Por isso, eu nunca fiz planos concretos de ficar por aqui. Nunca vi minha vida sendo vivida inteira na Alemanha, mas dessa vez foi diferente. Rolou uma oportunidade real de trabalhar na Alemanha.
Todo mundo que faz mestrado aqui tem direito a visto para procurar trabalho por 18 meses. Eu consegui a coisa rara de já ter um contrato assinado de antes mesmo de entregar a dissertação e pra um trabalho legal ainda por cima. E exatamente onde tudo começou: em Düsseldorf, de novo. Justamente onde eu aprendi alemão e que podia dar um jeito em tudo com foco e disciplina, mas sem perder espontaneidade (ou vocês acham que eu aprendi alemão por osmose?).
Viver longe de casa é mais ou menos isso: no instagram, sou foda, desmontei meu quarto inteiro sozinha. Na vida real, passar uma semana inteira “desmontada” de tanta dor no corpo depois da ação. #partiuintercambio #vidanaalemanha #vidalongedecasa Uma foto publicada por Partiu intercâmbio (@partiuintercambio) em
Doze anos depois, estou eu em um quarto nesta mesma cidade e quando parecia que ia ser fácil: afinal, eu tenho um trabalho numa empresa legal, tô fazendo algo que acho bacana, já falo a língua e tenho experiência em intercâmbio, a coisa não foi beeeeem assim. Passei maior perrengue para conseguir apartamento, todos os meus documentos foram roubados, a maior parte dos meus amigos está em outros cantos, trabalhar no Exterior não é bem a mesma coisa que fazer intercâmbio e me bate aquela tentação infinita de me comportar como aos 17 anos: “por que diabos eu fiz isso com a minha vida se ela tava tão boa antes?”
Com os intercâmbios eu aprendi que duvidar faz parte
Depois de 29 anos sendo exatamente eu, quase caio na mesma armadilha de esquecer que um pouco de caos, muitas perguntas e pouquíssimas certezas é exatamente o que faz de mim o que eu sou. E além disso, sofrer com problemas relacionados à vida longe de casa, é antes de mais nada, um luxo, um derivado da possibilidade de fazer escolhas, um privilégio que nem todo mundo tem. Morar fora não é bolinho, não é só aquela maravilha que todo mundo publica no Instagram, podem ter certeza. Tem horas em que a gente se sente terrível e irremediavelmente sozinho e parece que essa ideia de deixar a vida no nosso país foi uma idiotice sem fim.
Talvez por conta disso eu tenha passado uns tempos afastada daqui. Desde que voltei da Finlândia, eu estava ansiosa a ponto de quase perder todos os cabelos da cabeça por ter que começar tudo de novo, estar sem apartamento e sozinha em uma nova cidade. Quando tudo parecia resolvido, fiquei sem todos os meus documentos. E não faz sentido nenhum eu ficar aqui falando de como morar e estudar fora é lindo e maravilhoso se não sinto que minha vida está correspondendo com isso. Aí eu me dei conta que precisava falar disso aqui e esse processo de botar as ideias “no papel” só me lembrou como um tantinho de caos sempre fez parte da minha jornada e foi sempre nele onde eu me fortaleci.
Viver no imprevisto foi a melhor coisa que eu aprendi com o intercâmbio. Isso me ajudou não me encher de certezas e cair na armadilha de achar que tudo estava ganho. Assim, eu aprendi a ter o foco e disciplina necessárias para a me obrigar a lembrar que todo o inverno uma hora acaba e se as coisas tão meio turbulentas agora…. que bom! Nunca foi na velocidade de cruzeiro e com tempo limpo que eu fiz meus melhores voos.
E esse novo passeio está apenas começando 🙂
Quer saber mais sobre mim e o que eu aprendi com o intercâmbio?
Dá o play nesse vídeo aqui que eu explico porque esse texto foi publicado em 2015 e de lá pra cá muuuuita coisa mudou 🙂
Sobre o autor
Bruna Passos Amaral
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Quem faz?
Bruna Passos Amaral é jornalista, viajante, entusiasta da educação e apaixonada por idiomas. Na bagagem, são nove intercâmbios – dois nos Estados Unidos, seis na Alemanha e um na Finlândia – e passeios por diversos países. Participe, mande relatos, perguntas ou sugestões. Os comentários no site são sempre respondidos!
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11 comentários em “A melhor coisa que eu aprendi com o intercâmbio”
Oi Bruna, achei muito legal o seu texto !! Queria te perguntar, quando vc conseguiu emprego aí, o seu empregador é seu sponsor ? Tipo, através dele vc conseguiu o visto de trabalho pra permanecer aí ??
Muito bom Bruna,
Eu estava precisando ver isso para esclarecer algumas duvidas.
Eu gostaria de concluir meus estudos na alemanha ,no momento curso engenharia civil e quero transferir para alemanha ! vc conheçe alguma coisa sobre este assunto ?
Bruna, muito bacana de ler suas experiências! Há alguns anos estou com a ideia de “botar a cara no mundo”, mas ainda tenho algumas incertezas, todavia, possuo a convicção que necessito de novos horizontes. Tenha força e saiba que ganhou mais um seguidor! Termino aqui com uma frase que gosto e serve de incentivo: “mire sempre no rumo da lua, pois se errar, pelo menos estará entre as estrelas”. Voe alto, beijos e até! =)
Teu blog é simplesmente DEMAIS!
É simplesmente TUDO o que quem pensa em estudar, trabalhar ou morar fora, precisa saber!
Virei fã!
Gente, assim vocês me fazem chorar :* muito obrigada pelo carinho e as palavras :**** <3
Nossa! To apaixonada por tudo que estou lendo aqui. Parabéns pelo blog,
pela coragem e pela força Bruna! Estou fazendo jornalismo e estou precisando de uns conselhos sobre isso. Qual é o seu e-mail? Posso te mandar um?
Isys, obrigada pelo carinho! o email é o [email protected], mas a chances de ter uma resposta são infinitamente maiores se você comentar aqui no blog 🙂 e assim a gente ajuda mais gente ao mesmo tempo. já que a resposta é pública! beijo!
Nossa! Eu realmente estava precisando ler isso! Veio em boa hora!
As vezes a gente se ilude achando que podemos controlar tudo, que será perfeito e organizado…rsrs
Obrigada pela sinceridade, Bruna! Desejo o melhor para você em sua jornada! Você não tem ideia de como seu texto me inspirou…
Abçs
<3
obrigada pelas palavras
beijo
Ameeei Bruna ! O otimismo é esperar o melhor. A confiança é saber lidar com o pior.Fortalecer no que não é bom é essencial !
Força, força, muita força, Bruna! <3