Mid-Year Conference e o que é ser FLTA
O programa FLTA possibilita que professores recém formados deem aula de Português em universidades nos Estados Unidos por dois semestres. No entanto, esse programa não existe só no Brasil: há FLTAs de mais de 30 países ensinando árabe, alemão, espanhol, italiano, suaíli, wolof, uzbec, japonês, russo, entre outras línguas. Alguns dos professores nós já conhecíamos da Summer Orientation; mas agora, do dia 11 a 15 de dezembro, aconteceu um evento que reuniu os quase 400 FLTAs de todas as nacionalidades em Washington D. C.
Promovido pelo IIE (Institute of International Education, organização que representa o governo dos EUA em questões de assistência a estudantes internacionais) a Mid-Year Conference tem como objetivo potencializar e compartilhar as experiências de FLTAs como professores de língua adicional, estudantes internacionais e embaixadores culturais. O evento, que acontece exatamente no meio dos dois semestres letivos, contou com palestras, oficinas, mostras culturais e, o mais importante, um intercâmbio multicultural. Washington já é uma cidade cosmopolita, mas nessa semana era como se o mundo todo tivesse concentrado no hotel Mariott.
Um encontro brasileiro antes da conferência
Dois dias antes de acontecer a Mid-Year Conference, a Fulbright Brasil organizou pela primeira vez uma reunião entre os 20 FLTAs brasileiros para discutir nossas experiências até então. Esse encontro contou com o diretor executivo da Fulbright Brasil, Luiz Loureiro, a Coordenadora do programa FLTA no Brasil, Camila Menezes, e representantes do IIE. Tivemos aí uma oportunidade para compartilhar nossas experiências, êxitos, medos e problemas até então. Dessa forma, podemos nos basear no que está dando certo para continuarmos assim no semestre seguinte e analisar o que precisa melhorar, para tentar evitar os mesmos problemas no semestre seguinte.
Além desse nosso feedback do programa, tivemos três convidados para esse encontro. A ex-FLTA Larissa Goulart relatou sua experiência ensinando português nos Estados Unidos durante e após o programa; o professor visitante da Penn State University, Kleber Silva, fez uma fala sobre as perspectivas de professores de português para estrangeiros; e a professora Alessandra de Paula, compartilhou suas experiências como leitura na Universidade da Califórnia (UCLA).
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Essa sub-conferência foi muito importante, porque pudemos discutir alguns problemas que nós tivemos ou nos basear em atividades bem-sucedidas em outras universidades. Como o FLTA é um programa que não – e nunca será – um padrão (cada universidade tem suas especificidades e diferentes requisitos), esse encontro foi extremamente necessário para nós entendermos o que cada um dos colegas está passando e refletir sobre nossas próprias práticas do semestre. Em um grupo de whatsapp, por exemplo, não teríamos essa visão geral. Ainda, foi uma baita oportunidade para os brasileiros estarem reunidos presencialmente, o que será muito difícil de acontecer novamente.
A Fulbright FLTA Mid-Year Conference
Depois da reunião entre os brasileiros, nos quatro dias seguintes tivemos a Mid-Year Conference, com os FLTAs do resto do mundo. O primeiro dia foi basicamente o acolhimento e o cadastramento dos participantes. Então, como nós brasileiros já estávamos instalados no hotel, tivemos bastante tempo para andar pela cidade. Uma dica para passeio cultural por Washington é o National Mall: uma praça gigante no centro da cidade, que vai do Capitólio ao Monumento do Lincoln, rodeada por monumentos e museus. E o melhor: praticamente todos os museus são gratuitos. Um problema bom é que eles são todos enormes, e precisamos de muito tempo em cada um deles.
No segundo dia da conferência também tivemos poucas atividades. De manhã tivemos uma fala de boas-vindas com representantes do governo dos EUA, seguido de uma palestra maravilhosa sobre línguas em perigo de extinção, ministrada pelo professor de linguística David Harisson, do Swarthmore College. Sua palestra foi um relato de três expedições a ilhas do pacífico onde ele pode demonstrar a riqueza cultural de três comunidades cujas línguas estão correndo risco de extinção. Ele mostrou como meio-ambiente, língua e cultura estão interligadas e como preservar a língua é, portanto, preservar cultura e o meio-ambiente. O professor Harisson ainda mostrou como a tecnologia pode favorecer a propagação dessas línguas indígenas.
O último compromisso desse segundo dia foi ao meio-dia com os dois orientadores dos FLTAs aqui nos EUA, Ted Geary, da parte leste, e Justin Van Ness, da parte oeste. Eles basicamente são as pessoas para quem devemos reportar qualquer problema que aconteça com a gente, depois dos nossos supervisores em cada universidades.
Os últimos dois, por outro lado, dias foram repletos de atividades. Na sexta-feira, começamos com uma palestra sobre psicolinguística e fonética, com a professora Robin Barr, linguista da American University. Logo em seguida, tivemos uma mostra cultural (Cultural Fair), com mesas dos seguintes países: Áustria, Birmânia, Brasil, Colômbia, Coréia do Sul, Egito, Emirados Árabes, Espanha, Finlândia, França, Índia, Iraque, Itália, Japão, Líbia, Marrocos, México, Mongólia, Paquistão, Quênia, Senegal, Tailândia, Tanzânia, Tunísia, Uzbequistão e Venezuela. Cada mesa tinha artefatos tradicionais dos países. Em algumas delas, até recebíamos pequenas lembrancinhas. A mesa brasileira era uma delas. O Alexandre trouxe fitinhas do Senhor do Bonfim da Bahia para distribuir pro pessoal. Além disso, tínhamos gibis da Turma da Mônica, vestimentas tradicionais, bandeiras do país e dos estados e fotos de pontos turísticos ao som de músicas populares brasileira.
Durante a tarde, tivemos mais duas palestras. Uma sobre como facilitar participação em sala de aula, com a professor Anne Curzan da Universidade de Michigan; e a outra sobre como desenvolver jogos em sala de aula, com o professor Jeffrey Kuh, da OHIO University.
O último dia, também com a programação cheia, começou com relatos de experiência de antigos FLTAs, e com uma fala do professor George Marquis, da Universidade do Cairo, sobre como se preparar pra voltar para nosso país e as perspectivas depois do programa. De tarde, pudemos escolher fazer duas oficinas entre essas opções: “Managing Cross-Cultural Communication in a Global Higher Education Landscape”, “Language Stereotypes”, “How Non-Filmmakers Can Make Films that Change the World”, “Teaching Heritage Language Learners: Best Practices for the Language Classroom”, “Setting Final Learning Objectives: Insights from Less Commonly Taught Languages” e “Using Virtual Exchanges for Cross-Cultural Understanding and Language Learning”. Logo em seguida, foi a hora de ouvirmos nossos pares. 24 FLTAs foram selecionados para apresentarem trabalhos desenvolvidos em suas universidades. Dos brasileiros, eu, Felipe e Gustavo fomos selecionados.
A pior atração, na minha opinião, ocorreu depois das apresentações. No salão principal ocorreu uma gravação ao vivo do do podcast 22.33 com os mesmos FLTAs que falaram de manhã. Para piorar estávamos todos cansados. Contudo, às vezes uma atração ruim pode potencializar uma coisa boa. Tipo bandas ruins que abrem shows de bandas boas. O encerramento do evento foi um show de talentos com apresentações da Argentina, Cazaquistão, Egito, Filipinas, Indonésia, Irlanda, Nigéria, Rússia, Tanzânia e Turquia. E o show teve como apresentadores um FLTA brasileiro, o Dave. Abaixo, sneak peek das apresentações da Irlanda e da Nigéria:
Ainda estou um tentando digerir o que aconteceu nessa semana. Conviver com pessoas de todas as partes do mundo nessa semana me fez perceber a real dimensão do programa. FLTA é muito mais que dar aulas da nossa língua materna. É muito mais que estudar nos Estados Unidos. É mais que um intercâmbio. É muito mais que ser um embaixador cultural. Ser FLTA é poder malear o tempo e o espaço, pertencer a um grupo de pessoas das mais diferentes culturas e poder estar em um ambiente de constante ensino/aprendizagem. É perceber que o mundo ao mesmo tempo é muito grande e diverso, mas estamos, de fato, agindo local e globalmente, conhecendo e compartilhando saberes. É uma egrégora.
Sobre o Autor:
João Pedro Amaral é professor de inglês e literatura em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. Seu projeto de letramento audiovisual para alunos de escolas públicas foi vencedor do 11o prêmio professores do Brasil na categoria ensino médio da região sul do Brasil e o levou para conhecer o sistema de educação no Canadá. Em 2019/2020, João vai passar um ano letivo dando aulas de português na Towson University, nos Estados Unidos, com bolsa do programa FLTA da Fulbright.
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Sobre o autor
João Pedro
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Quem faz?
Bruna Passos Amaral é jornalista, viajante, entusiasta da educação e apaixonada por idiomas. Na bagagem, são nove intercâmbios – dois nos Estados Unidos, seis na Alemanha e um na Finlândia – e passeios por diversos países. Participe, mande relatos, perguntas ou sugestões. Os comentários no site são sempre respondidos!
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