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FLTA na Towson: a rotina de professor nos EUA

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No Brasil é muito comum ver nas paredes de corredores de escolas e universidades listas de turmas com nomes e notas. É como se todo o desempenho fosse de domínio público. Aqui nos Estados Unidos isso é inadmissível. As notas e avaliações são privadas e dizem respeito apenas ao aluno (com exceção das escolas, é claro, visto que os responsáveis exercem direito legal sobre os jovens).

Apesar da equipe da Fulbright ter comentado repetidamente isso na Summer Orientation, foi um estranhamento para mim. Minha chefa me sugeriu entregar as atividades avaliativas individualmente enquanto a turma está ocupada com um exercício. Eu teria que cuidar ainda para entregar as folhas dobradas, para colegas não verem as notas.

Bolsas nos EUA

Em relação às provas, outra coisa me impressionou positivamente: o tratamento para com as pessoas portadoras de necessidades especiais. Na primeira semana letiva, essas pessoas devem entregar para todos os professores um comprovante – sigiloso – atestando as adaptações que eles têm direito. Quando eu faço uma avaliação, por exemplo, esses alunos agendam uma sala no centro de atendimento aos alunos com necessidades especiais para realizar a prova no horário da aula. Tão logo a requisição é feita, eu recebo um e-mail para confirmar a solicitação com o tempo previsto para a prova e quais providências os educadores especiais devem tomar em caso de atraso (impedir de fazer a prova, descontar o tempo ou permitir tempo extra). Também tenho que escolher se eles podem interromper a prova para ir ao banheiro. Com o meu aceite, eu tenho que enviar a prova por e-mail para esse pro centro e os profissionais fazem as adaptações necessárias. Então, por exemplo, se alguém possui baixa visão, eles formatam a prova com uma fonte maior. Assim que o aluno finaliza a prova, ela é encaminhada para meu escaninho, no departamento de línguas estrangeiras, em um envelope selado com letras garrafais “Confidential Material”.

Esses procedimentos são excelentes. Uma ótima solução para um dilema que enfrentava na minha vida de professor na escola. Em uma das escolas que trabalhei, havia duas educadoras especiais para todos os alunos. Logo, elas não davam conta da demanda e nós, professores, tínhamos que adaptar nós mesmos as avaliações. Eu pensava: até que ponto eu conseguiria fazer uma adaptação efetiva? Estou fazendo certo? Além de trabalhar como educador especial essas demandas me tomavam muito tempo. Impressionante como aqui se preza pelas liberdades individuais.

Falando nisso, aqui nos Estados Unidos existe o famoso “Title IX”, uma lei federal dos direitos civis que garante que nenhuma pessoa nos EUA seja discriminada, excluída ou tenha benefícios restringidos em qualquer programa educacional. Isso implica, obviamente, em um amparo legal para um ambiente que promova a diversidade em questões de performance de gênero, de orientação sexual, de etnia, de crenças religiosas, de raça, de cor, entre outras. O Title IX trata ainda do assédio e violência sexual. As instituições devem oferecer todo o suporte para termos uma convivência saudável. Na Towson, no início do semestre, todos os alunos tiveram que realizar o curso online “Sexual Violence Prevention for Undergraduate Students”.

Isso não significa, contudo, que não há casos de assédio por aqui. Semana passada aconteceu um incidente no campus (a polícia envia e-mail para toda a comunidade em uma ocorrência de qualquer ordem) e, no dia seguinte, recebemos um e-mail da reitora repudiando com veemência o ato e convocando toda a comunidade para uma discussão pública sobre o tema: “As TU’s president, I am writing to you to reaffirm that any and all forms of violence, sexual misconduct, sexual assault, harassment or intimidation will not be tolerated at Towson University. We as a community stand resolute and unwavering in that commitment to our community and each other”. Na outra semana, recebemos a ata do encontro.

>>> Morar fora e sair do Brasil não são a mesma coisa

É recompensador saber que ações como essas são feitas e amplamente divulgadas. Bom para a educação, os alunos, os docentes e a comunidade.

 

O futebol que não é futebol

 

No dia 21 de setembro, fui assistir ao meu primeiro jogo de futebol americano. O jogo era entre  time masculino da universidade (os Tigers) contra a equipe da Universidade de Villanova (Wildcats), no Estádio Johnny Unitas. As pessoas são fissuradas em futebol americano. O jogo era às 18h, mas desde às 15h já tinha uma galera nos arredores do campo.

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Foto tirada do camarote do Departamento de Línguas Estrangeiras. Nessa hora ainda estava sem entender o jogo.

 

O espetáculo estava muito bonito, mas só consegui entender as regras depois da metade do jogo. De fato, os americanos parecem que vão para o jogo de futebol americano não pelo jogo em si, mas pelo evento, como uma forma de socialização. Antes e durante do jogo, fomos agraciados com apresentações da banda marcial de Towson, do grupo de dança e das animadoras de torcidas. Aliás, agora compreendi a função delas: como o jogo para frequentemente, elas garantem que o público fique entretido.

É engraçado que nos intervalos dos 4 tempos do jogo, o telão exibe aleatoriamente pessoas da plateia para fazer alguma atividade (tocar guitarra imaginária, dançar ou levantar as mãos). Já sobre o resultado em si, fui pé-frio. O time da casa empatou o jogo, mas perdeu na prorrogação.

Eu assisti o jogo com minha chefa, seu marido Tom, e a outra FLTA queniana. Lá pelas tantas, Tom me perguntou como xingam os juízes no Brasil, pois aqui eles costumam falar de suas faculdades cognitivas. Respondi que geralmente insultam suas mães ou o difamam com algo relacionado à corrupção.

– Sério? Ladrão? Ei, isso é pesado – me respondeu Tom.

Nunca tinha parado pra pensar, mas parece que a corrupção no Brasil não choca mais ninguém.

Já o futebol, o nosso futebol, o verdadeiro futebol, é menos prestigiado. O campo tem arquibancadas para umas 50 pessoas e fica atrás do estádio de futebol americano. Fui assistir ao jogo do futebol feminino contra a Bucknell University (the bison), que também perdeu por 2×1 para a universidade de. Sim, podem me chamar de Mick Jagger.

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O mascote dos times da Towson tentando animar as crianças da arquibancada. Sem muito sucesso.

Latinx Parade

Outro evento interessante que assisti na tarde do último sábado foi Parade of the Latinx Nations, para comemorar o mês da herança hispânica em Baltimore. Diversos grupos folclóricos de dança e de música desfilaram pelo bairro Highlandtown até o Patterson Park, onde havia tendas de comidas típicas e música até o fim da tarde. A Towson disponibilizou transporte gratuito para estudantes prestigiarem o festival.

Baltimore é uma cidade com uma população grande de imigrante: tem um título informal de cidade de imigrantes. Desde a Primeira Guerra Mundial, Baltimore recebeu refugiados de diversos países, devido à sua localização geográfica, pois fica perto do mar. Depois da Segunda Guerra Mundial até os anos 90, entretanto, a imigração foi mais lenta. Já nos anos 2000 houve novamente um boom de imigrantes. Atualmente, mais de 7.3% da população de Baltimore é composta de imigrante, mais de 45000 pessoas.

O desfile não tinha um concurso de comer torta, nem corrida de porcos, mas tinha muita gente animada e música dançante. Uma pena que o Brasil estava representado apenas com uma bandeira no pelotão de frente. Nada comparado às bandas mexicanas, à animação colombiana ou à ginga caribenha.

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Pelotão dos alunos latinos da Towson University

 

Das atividades de professor nos EUA: o Clube de Cinema Brasileiro

Aconteceu na última quarta-feira a segunda sessão do clube brasileiro de cinema. O filme exibido foi Mãe só Há uma (Don’t Call me Son). Fiquei muito feliz como as pessoas ficam curiosas com aspectos culturais do país. Dentre os tópicos da discussão pós-sessão, estavam questões de gênero, comunidade LGBTQI+, conflito de classe, adolescência, um certo realismo brasileiro, e até churrasqueiras dentro de casas no Brasil.

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Todas as bolsas

Sobre o Autor:

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João Pedro Amaral é professor de inglês e literatura em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. Seu projeto de letramento audiovisual para alunos de escolas públicas foi vencedor do 11o prêmio professores do Brasil na categoria ensino médio da região sul do Brasil e o levou para conhecer o sistema de educação no Canadá. Em 2019/2020, João vai passar um ano letivo dando aulas de português na Towson University, nos Estados Unidos, com bolsa do programa FLTA da Fulbright.

 

 

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Sobre o autor

João Pedro

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Quem faz?

Bruna Passos Amaral é jornalista, viajante, entusiasta da educação e apaixonada por idiomas. Na bagagem, são nove intercâmbios – dois nos Estados Unidos, seis na Alemanha e um na Finlândia – e passeios por diversos países. Participe, mande relatos, perguntas ou sugestões. Os comentários no site são sempre respondidos!

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