IJP: o estágio no Tagesspiegel
De cada dez pessoas que falam comigo, 15 perguntam: e o trabalho no Tagesspiegel como tá? Tá bem, gente. Tá muito bem. Comecei no online no dia primeiro de março e a coisa vai indo super bem. Aprendi a mexer no sistema em meia hora e já sai publicando matéria. Na verdade, o que eu menos faço é publicar coisas de agência. Eles têm uma postura de investir muito em histórias locais e, como eu não sou bem uma repórter como qualquer outra, porque né não tenho alemão como primeira língua, eles me deixam livre para gastar meu tempo na redação como eu achar mais interessante. E quando a coisa aperta, aí eu sempre dou uma mão.
Tagesspiegel, guten Morgen |
O que eu faço então? Me divido entre catar pautas relacionadas ao Brasil que sejam interessantes para eles e incomodar os editores em Porto Alegre com sugestões de pautas daqui. Óbvio que para escrever um texto em alemão eu levo vinte vezes mais tempo que eu levo em português, mas a coisa tá se desenvolvendo. Difícil tem sido me adaptar às matérias do impresso: elas são enormes. A primeira teve 5 mil caracteres a próxima vai ter 8 mil (e em alemão, néam). Depois que eu termino essas matérias, tenho a impressão que meu cérebro está derretido, porque o esforço mental de escrever rápido e em alemão é grande. Mas é a vida né, no pain, no gain, amiguinhos. Antes que alguém pergunte, é claro que sempre alguém dá aquela lidinha básica e me ajuda a “traduzir” algumas das coisas para o alemão “jornalístico”. Então, todo esse esforço mental está valendo muito a pena, mesmo que de vez em quando eu já ande colocando as palavras em português em lugares estranhos nas frases (desculpem!).
Paranóia: tem que dar o “bip” com o crachá em todas as portas que levam de uma área do jornal pra outra e no elevador |
No online, são cerca de 12 pessoas exclusivas para o site. Engraçado é que eu entrei no jornal exatamente no meio do processo de fusão entre online e offline. Eles estão começando a passar a responsabilidade de colocar as matérias no impresso no ar para o próprio repórter. No meu primeiro dia, vi um jornalista que devia ter seus 60 e vários falando com o editor. Ele tinha deixado o texto dele do jornal do dia seguinte já pronto para publicar e cheio de links antes mesmo de sair e tava todo orgulhoso. Apesar de ser um site, o ritmo é completamente diferente do que eu estava acostumada. Comparado ao que eu conheço, o pessoal aqui trabalha sem absolutamente nenhuma pressa.
Óbvio que eles têm seus momentos em que querem as coisas mais rápido, mas mesmo nas horas de maior stress o ritmo ainda é bem menos acelerado. Jamais alguém do online vai publicar uma matéria sem todos os recursos disponíveis ali: matérias relacionadas, galeria de fotos (quando tem), links no texto. Para eles, tudo isso é ultra importante e simplesmente TODOS os jornalistas fazem isso. Até os do offline. Por volta das 20h, chega a primeira edição do jornal na redação. O horário que tem mais movimento é pelas 10h. À noite, não tem muita gente, nem no site. Eles investem mais na manhã que é o horário de maior audiência. Pra ter muita gente no site à noite, só se tiver algum evento importante. E ah, eles não têm madrugueiro no site.
Já aprendi que reclamar do sistema usado seja lá onde você trabalha é uma coisa universal. Faz parte dos jornalistas, assim como reclamar faz parte do serumanis. Confesso, entretanto, que o povo aqui reclama de barriga cheia. Precisei de trinta minutinhos para aprender a usar o sistema de publicação, corte de fotos e montagem de galeria (não sei como funciona com a capa ainda). Desde então, nunca mais precisei ajuda de ninguém para nada técnico. Além disso, todos os computadores têm um pdf com um manual detalhado de como o sistema funciona. Tenho minhas dúvidas se o sistema é o ideal em termos de eficiência, mas em termos de usabilidade, é o mais amigável e intuitivo que eu já usei. Só que né, como nem tudo é uma festa, apesar de simples de usar, ele é meio lento.
Calma, gente, não é cerveja! É água com gás ou sem na “cozinha” da redação |
A redação em si também é bem diferente. Nada de muita falaçada, nada de muita gritaria, o pessoal aqui presa muito por poder trabalhar em silêncio e concentrado. Um colega aqui do jornal esteve no Globo com o mesmo programa. Ele disse que não sabe como a gente trabalha com tanto barulho, tanto movimento. Confesso que, na verdade, esse silêncio me incomoda um pouco bastante, mas estou me acostumando. Sou uma moça versátil.
No meu andar, fica a redação online, a política e vários dos chefões. Esporte e cultura, por exemplo, ficam no segundo andar em salas separadas. Em cada andar, tem uma cozinha com máquina de café, micro ondas, água quente e essa “torre” aí em cima com as torneirinhas. Mas calma aí, das torneirinhas sai água com gás ou sem. Na caixa ali do lado, geralmente fica uma porção de chocolates, balas e outras guloseimas. Quem quiser algo, pega e deixa o valor correspondente no cofrinho da caixa. Sem nenhuma Lara sorridente pra te dar bom dia…
Ai se eu te pego, famosa no Brasil e no mundo 😛 |
Para ler as minhas matérias publicadas em alemão, é só clicar aqui.
Sobre o autor
Bruna Passos Amaral
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Quem faz?
Bruna Passos Amaral é jornalista, viajante, entusiasta da educação e apaixonada por idiomas. Na bagagem, são nove intercâmbios – dois nos Estados Unidos, seis na Alemanha e um na Finlândia – e passeios por diversos países. Participe, mande relatos, perguntas ou sugestões. Os comentários no site são sempre respondidos!
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