Cidade do México em pouquíssimos dias
Não sei vocês, mas eu viajo procurando lugares para onde voltar, atrás daquela sensação de “eu deveria ter ficado mais tempo aqui”. Enquanto eu ainda procurava um lugar para onde ir nas férias, uma amiga disse “vai pro México, vai roubar teu coração”. Foi exatamente o sentimento que a Cidade do México me deixou. Acabei ficando bem pouquinho lá por ter dividido o roteiro entre Cuernavaca (melhor nome de cidade da vida!) e Cancún (mereço férias de gente importante uma vez na vida!).
As primeiras dicas básicas pra qualquer um que vai para lá são simples, mas importantes: até segunda ordem, tem que ter visto para entrar no México. Então, ou você tem um visto americano válido no seu passaporte (só eu acho isso bizarro?), ou você entra aqui (pode ser até no dia da viagem mesmo) e preenche um documento eletrônico que precisa ser levado (impresso) pro aeroporto. Um montão de gente chega para embarcar bem faceiro sem o visto e toma um suador atrás de algum lugar onde dê para fazer e imprimir o negócio. Outro ponto importante antes de viajar é: a Cidade do México fica a 2.250 metros acima do nível do mar. Menos que La Paz, na Bolívia, mas se você for como eu, que sinto pressão no ouvido ao subir pra Serra Gaúcha (fiasquenta!), a chegada pode ser meio tensa. Nada que você vá morrer, mas é como se de uma hora pra outra seus ossos fossem de chumbo. Desconfortável, mas nada que umas horinhas de sono não resolvam.
Março me pareceu um período bem bacana pra visitar o país. Durante os dias em que estive lá, a temperatura era boa durante o dia (entre 25 e 32C) e fresquinha durante a noite (por volta dos 14C). Ou seja tem que levar um chapéu e protetor solar e não dá pra esquecer do casaco mais pesadinho. Como eu tinha pouco tempo na segunda cidade mais populosa do mundo, deixei um dia inteiro só para Teotihuacan. O sítio arqueológico, localizado a 40 km da Cidade do México, é Patrimônio da Humanidade e uma das coisas mais incríveis que eu já vi. Olhem só:
Dá pra ir de ônibus é só ir de metrô até a estação Autobuses del Norte e lá na rodoviária pegar um ônibus Línea Teotihuacan. Eles saem a cada 15 minutos. O Último ônibus deixa Teotihuacan às 18h e custa por volta de 40 pesos. Nos hotéis e albergues, sempre têm uns pacotes de transporte com guia, é só se informar. Teotihuacan é o lugar ideal para visitar na segunda-feira. Neste dia, quase nenhum dos museus da Cidade do México abrem e com todo o trânsito, você leva entre uma e duas horas só para chegar no sítio. Não esqueça de levar sua própria garrafa de água ou de comprar logo na entrada do parque. Lá dentro tem uma dezena de ambulantes só que nenhum vende bebidas e sombra é praticamente impossível de encontrar. Então, vá prevenido ou depois não diga que eu não avisei.
Os degraus das duas pirâmides são bem estreitos e altos, então prepare o fôlego e esqueça o medo de altura. Uma corda foi fixada no topo da pirâmide para servir de corrimão e ajudar quem sobe a não cair. É puxado mas vale o esforço. Lá de cima, dá pra passar uma boa meia hora só olhando a vista de todo o sítio arqueológico: a Pirâmide da Lua, o Templo de Quetzalpápalotl, a Calzada de los Muertos e outras construções da volta. Ou seja, é bastante caminhada no sol e subindo e descendo degrau. Depois de toda a função, dá uma fome enorme, ali bem pertinho do parque tem um monte de restaurantes onde dá pra comer por preços razoáveis. Nós fomos no Mi México Lindo, que além de restaurante também tinha loja vendendo todo o tipo de artesanato. O que eu curti foi um prato que o garçom chamou de “mix asteca” vinha com um pouquinho de cada coisa, aí deu pra provar de tudo com umas margueritas para acompanhar. Não fosse suficiente, na volta, ainda nos deparamos com esse um entardecer desses:
Por R$ 30 por noite, fiquei no Hostel Amigo Suites Downtown. Meu quarto não era tão bonito quanto o da foto, mas tinha um banheiro limpo com chuveiro quente. Além disso, tinha café da manhã, janta (!), wifi, computadores com acesso à internet de graça e era no meio do centro histórico. Se você ficar três noites, eles ainda te buscam no aeroporto. Acho que vale o preço.
Eu tinha pouco tempo, então resolvi que ia gastá-lo caminhando pela cidade. Até porque o trânsito lá é uma lou-cu-ra, sempre atravancado e cheio de engarrafamentos. Entrei na Catedral (primeira foto do post), passeei pela volta do palácio do governo, do Museu de Belas Artes e a cada esquina tinha a sensação de que eu ia ser engolida pela multidão.
Andei todo o centro e uma bela hora cheguei na Avenida Juarez, que é enorme e toda arborizada com um parque bem bonito no meio. Era sábado e tava cheio de gente. No meio da gritaria dos ambulantes, o barulho dos carros e dos grafites por todos os cantos, numa das pontas da avenida tá a Plaza de la Solidaridad. Lá rola uma feira onde se pode comprar todo o tipode badulaque, artesanato, cd pirata e comida, muita comida. O que mais me encantou naquilo tudo foi bem na ponta da praça onde três bandas diferentes tocavam e todo mundo dançava. Tinha velho com moça, gurizinho com a vó, uma graça. Todo mundo faceiro dançando.
Tenho o hábito de comer comida de rua em quase qualquer lugar. Um senhor vendia espigas de milho cozidas na brasa na Plaza. Não hesitei. O único detalhe, eles passam maionese e limão no milho, além do sal. Um tanto estranho pra mim. Só encarei a metade depois, por bem, achei melhor partir pra um taco de Suadero. Não me perguntem que parte do boi é essa. Melhor nem saber. Mas era ok: com molho de uma pastinha de feijão, cebola, tempero verde e pimenta. Óbvio.
No caminho de volta pro albergue cruzei com o La Opera, um bar/restaurante que tinham me dito ser imperdível. Entrei. O restaurante tem mais de 100 anos de tradição, segundo a lenda, o revolucionário mexicano Pancho Villa entrou e deu um tiro no teto. Os garçons mostram orgulhosamente o ponto. Tudo parece parado no tempo ali (mas de uma forma boa), o prédio é lindíssimo e as paredes exibem vários recortes de jornal mostrando os visitantes ilustres. O cardápio é cheio pratos típicos e eles ainda têm uma carta de cervejas artesanais.
No último dia, eu tinha que estar no aeroporto às 16h. Então, precisava escolher uma coisa só pra fazer. Fiquei com a Casa Azul, o museu da Frida Kahlo. É longe do centro, mas tem um parque bem bonito – batizado com o nome da pintora – no bairro. É o tipo de lugar que dá para ir e passar o dia inteiro. Só a viagem de metrô é uma “viagem”. Os ambulantes são tão sincronizados, no que um termina de falar já começa o próximo, que formam quase uma sinfonia do metrô. E ela vai ininterrupta de um fim da linha ao outro.
A Casa Azul é o museu que funciona na residência onde Frida nasceu e viveu praticamente toda sua vida. Além de pinturas, desenhos e trabalhos não terminados, também dá para ver os ambientes com os móveis originais. Na exposição também tem uma porção de cartas trocadas com Diego Rivera (marido dela), Leon Trótski e outras pessoas. O museu também exibe joias, vestidos e próteses usadas por ela. Boa parte dessas coisas passou anos trancada nos banheiros da casa. Em seu testamento, Rivera fez constar que a peça com os objetos da mulher deveria permanecer fechada por 15 anos. Só em 2004 o material foi conhecido: mais de 20 mil documentos, entre fotos, desenhos, cartas e 300 objetos pessoais da artista.
Depois do passeio inspirador, peguei um táxi para o aeroporto com o taxista mais conversador e simpático do mundo (provavelmente). Ele tava super interessado em tudo que eu tinha feito por lá e, quando soube que eu tinha ido na Casa Azul naquele dia, ele me solta essa:
“Sabe, a Frida (Kahlo) não era uma mulher bonita, mas ela tinha uma energia, uma coisa especial: um amor enorme pela vida, pelas pessoas. Isso que torna ela fascinante. Porque lindas são as pessoas que têm amor pelo que fazem e pelo que são. Elas são bonitas porque exalam vida. O resto tá ali só existindo.”
Depois desse post enorme, ainda preciso dizer por que quero voltar pra conhecer todo o resto da cidade (e do país, quem sabe) uma hora dessas?
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Antes que alguém pergunte: pros dias em Cancun comprei as passagens na Volaris com uns 40 dias de antecedência e deu para conseguir um preço bem bom: menos de R$ 150 reais ida e volta (com taxas e uns quilos a mais na mala – a passagem normal só inclui 15kg. É sempre melhor garantir). E tinha por menos até, mas eram em horários meio ruins e dessa vez as férias eram pra ser totalmente relax 😉
Sobre o autor
Bruna Passos Amaral
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Quem faz?
Bruna Passos Amaral é jornalista, viajante, entusiasta da educação e apaixonada por idiomas. Na bagagem, são nove intercâmbios – dois nos Estados Unidos, seis na Alemanha e um na Finlândia – e passeios por diversos países. Participe, mande relatos, perguntas ou sugestões. Os comentários no site são sempre respondidos!
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2 comentários em “Cidade do México em pouquíssimos dias”
Ahhhh Mi Mexico querido.
É tudo isso e muito mais. ♥
Lindo Post.
PS. E um taxista me disse isso também sobre a Frida. Não nas mesmas palavras.
História linda a dela. Lindo também é o amor que eles têm pelo próprio país.
Srta. Von Shaft,
muito bonitas e inspiradoras,
fotos, viagem e viajante;
inveja, ciúme e admiração,
tenho eu.