Melt! Festival 2014 sexta-feira

Melt 2014: sim, eu fui a um festival sozinha!

Melt 2014 (Foto: Stephan Flad, Melt Divulgação)
Melt 2014 (Foto: Stephan Flad, Melt Divulgação)

Fim de semana passado, aprontei uma das minhas “loucurinhas”. Fui a um festival de música aqui na Alemanha – daqueles em que o pessoal acampa e passa três dias suando, pulando e comendo porcaria, mesmo – absolutamente sozinha. Você aí deve estar se perguntando: ai, pobrezinha, ela não tem amigos? Sim, tenho, mas festival não é assim a coisa mais barata do mundo e ninguém que eu conhecia tava tão a fim de ver as bandas que iam tocar no Melt quanto eu. Pra vocês entenderem, o Melt é um dos festivais indie-eletrônicos mais legais aqui da Alemanha, o line up é cheio de djs e bandas = dá pra virar noite dançando e não dormir nunca se você tiver vontade e pique. A função toda rola em Ferropolis, uma península que abriga um museu industrial com maquinário de uma antiga mina de carvão, ou seja, só o lugar em si é incrível. Mas nada disso é o mais importante, o mais importante é que, sim, como ninguém quis ir comigo eu fui acompanhada apenas de… ahm…mim mesma.

Nunca fui o tipo de pessoa com problema de fazer coisas sozinha, fosse viajar ou ir ao cinema. Em algum momento, me dei conta que, com a vida de jornalista – trabalhando sábados, domingos, feriados e tirando férias em períodos tipo abril – ou eu passava a ser minha melhor companhia, ou eu gastaria meus preciosos dias de férias frustrada sem fazer metade das coisas que eu gostaria. Assim, começou minha história de simplesmente decidir para onde ir e, sem medo de ser feliz, viajar sozinha.

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Foto: Stephan Flad, Melt/Divulgação

Confesso que, mesmo eu tendo certa experiência em andar por aí sem ninguém, uns dias antes do festival, bateu um desânimo. Aquela coisa meio “putz, três dias no meio do nada com bando de louco E sozinha?”, mas toda vez que eu comentava com amigos sobre a possibilidade de seguir na empreitada mesmo sem ninguém pra me acompanhar só me dava mais conta de que meus argumentos contra eram praticamente inexistentes. Sabe quando nosso instinto diz pra fazer alguma coisa, mas aquele grilo  – supostamente racional – fica inventando razões para o lado contrário? Pois era bem isso que tava acontecendo. Como eu não tenho barraca e nem sou a maior fã dessa função de acampamento (ainda mais sem ninguém com quem dividir o peso de toda a tralha que tem que levar), comecei a fuçar na internet atrás de outras opções.

Aí eu descobri que tinha um trem saindo aqui de Colônia (do lado de Bonn, onde eu moro), uma espécie “trem-festa-hotel” com seis camas em cada compartimento. Melhor que isso, o trem ia ficar estacionado no camping pro povo dormir durante os três dias de Melt. Perfeito pra quem não tem paciência pra acampar e curte a comodidade de simplesmente sentar e ser levado até o lugar sem muito stress – sim, eu cogitei em alugar um carro ou ir de carona, mas odeio dirigir não ia conseguir confiar em um motorista que virou as três noites anteriores. Então, um dia antes do festival, fechei os olhos e comprei a passagem: “o pior que pode acontecer é eu ficar entediada ou achar essa coisa de festival um saco”, pensei eu.

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Meus colegas de trem foram preparados pro festival (Foto: Stephan Flad, Melt/Divulgação)

Quando cheguei na estação de trem me deu um friozinho na barriga: eu era a única pessoa que não estava com um grupo. Depois que o trem partiu, não precisou de dez minutos para eu estar batendo papo com meus vizinhos de cabine no vagão bar-festa. O mais divertido era perceber a pequena insanidade que era estar num trem-festa às 2h de sexta-feira sozinha a caminho de um festival – que ainda tinha mais três noites pela frente. Em algum momento do meio do caminho, me lembro de ter pensado: ainda bem que eu não fiquei em casa. Falei com tanta gente durante a viagem que nem vi as cinco horas do percurso até Ferropolis passarem.

Antes deste fim de semana, posso dizer que eu era do time “ai, festival não é pra mim, muita gente, muita função #mimimi” e quando eu desci do trem e vi barracas infinitas e cheias de gente em roupas de banho, me deu um certo pavorzinho, confesso. O Melt, no entanto, correspondeu a todos os bons comentários que eu já tinha ouvido de ser um festival completamente ~de boa~. Nos três dias, não vi um empurra-empurra, uma confusão, uma gritaria. Tudo foi muito civilizado, povo pedindo desculpas quando esbarrava em você mesmo com uma quantidade de álcool (e vai saber lá mais o que) alta no sangue, um treco meio de outro mundo pra quem já saiu com roxos do show do Franz Ferdinand no Pepsi on Stage. Antes que eu me esqueça, ser uma moça sozinha no meio das outras 20 mil pessoas em nenhum segundo foi um problema e, vale lembrar, o negócio é no meio do NADA.

O Melt é bem menor que um Glastonbury ou um Rock am Ring, mas isso foi uma das coisas que eu mais curti. Não precisava de telão, era fácil chegar perto do palco. Tinha filas mas nada absurdo. A distância de um palco pro outro era grande o suficiente para não vazar som e pequena o suficiente pra não fazer você desistir de ver o que queria por conta da caminhada. 20 mil pessoas parece muita gente, mas depois de três dias você se dá conta que vê sempre as mesmas pessoas, ou seja, encontrei meus ~amigos~ do trem por acaso – e por querer – em diversos momentos, então tinha sempre com quem comentar os shows ou dançar – caso eu estivesse de saco cheio de mim mesma. Além disso, um dos palcos era na beira do laguinho e, como o tempo estava bom (dizem as más línguas que só existem dois climas pra festival: calor infernal ou chuva torrencial), uma galera dava um mergulho entre um show e outro. Inclusive, todo dia tinha pelo menos um que se empolgava e pulava na água como veio ao mundo.

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Olha o palco na beira do lago (Foto: Stephan Flad, Melt/Divulgação)

Na verdade, meu maior medo era chegar lá e achar tudo muito indiada demais e, por eu estar passando pelos perrengues todos sem alguém pra rir comigo daquilo tudo, ficar de mau humor e não curtir, MAS como não sou boba e não tenho mais energia pra três dias de puro suor e sofrimento all by myself (faço 28 anos na quarta-feira, gente! juventude já era hahah), o trem-casa-festa me garantiu o mínimo de praticidade necessária pra coisa não virar um inferninho. Eu tinha um lugar pra dormir  – onde dava pra dormir mesmo com o calorão – e acesso a banheiros e chuveiros de verdade razoavelmente limpos (já vi banheiro de boate em pior estado depois de duas horas de festa). Digamos que eu estava na “classe média” do festival, a “classe C” fica numa área mais longe e tem que pagar por banheiros e chuveiros (ou tomar banho no lago OU usar só os banheiros químicos), já a “classe alta” dormia em umas casinhas com camas E eletricidade (ah, sim, esqueça seu smartphone, amigo, as filas da tomada são maiores que as do chuveiro).

Outra coisa legal, é que alemão é bicho esperto no quesito arrumação. Não sei como rola em outros festivais do mesmo porte, porque nunca fui. No Melt, assim como em qualquer boteco na Alemanha, a gente tem que pagar “depósito” (Pfand, a palavra preferida dos alemães) por todos os copos e garrafas. Ou seja, quase não tem lixo jogado no chão porque tudo vale dinheiro! Além disso, na entrada, eles te dão um sacão de lixo que, no último dia, é só levar cheio pra eles para receber cinco euros ou uma ecobag do festival (o que o vivente preferir).  Assim, não fica aquele clima de lixão e é bem mais legal.

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O que fazer é o que não falta no Melt (Foto: Stephan Flad, Melt/Divulgação)

Meu segundo medo era morrer de tédio durante o dia, antes dos shows. Sabe nada, inocente. O Melt tem o famoso Sleepless floor, onde dá pra dançar sem parar até entrar no modo zumbi (cá entre nós, música eletrônica e bons djs são O forte do Melt e isso não é assim… BEM a minha praia. Como diz minha amiga Isadora, gosto mesmo é de música que dê pra cantar junto). A coisa toda é uma enorme festa de criança cheia de adultos, tem todo o tipo de coisa pra fazer. Dá pra tomar banho de lago a tarde inteira, beber cerveja com os amigos, pintar a cara de cores neon e purpurina, tirar fotos em Harley Davidson, gravar vídeo embaixo d’água, cantar no karaokê, lavar o cabelo e se montar no stand da Aussie ou simplesmente sentar e observar o mundo paralelo que é tudo aquilo.

O festival superou minhas expectativas e, no final, quando desci do trem e disse um “see you” pros ingleses divertidíssimos que me acompanharam nessa bagunça, eu nem lembrava mais que tinha ido sozinha (gente, eles se “fantasiaram” de jogadores de tênis em um dos dias. Melhores pessoas! hahaha). E, sério, se você chegou até aqui nesse texto gigante, espero que você pense duas vezes antes de não ir a algum lugar ou não fazer o que seja só por “não ter companhia”. O que importa é viver as coisas que você quer viver, independente de ter alguém junto ou não. Companhia a gente arruma no caminho. Quando você se abre pro mundo, o mundo se abre pra você e coisas divertidas acontecem. Se nada divertido acontecer, bem, ainda assim é mais história pra contar que ficar no “e se eu tivesse ido” “e se eu tivesse feito”.

Ah, e e se você estiver pela Europa em julho do ano que vem e quiser ir num festival legal, fica a dica. Tem que ter um tantinho de desprendimento e energia, ÓBVIO, mas até eu, que sempre dizia que nunca iria num negócio desses porque é “muita função” (toma!), já estou considerando juntar minhas moedinhas para voltar em 2015 se as bandas forem boas. Mesmo que seja sozinha.

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Foto: Stephan Flad, Melt/Divulgação

 

Sobre o autor

Bruna Passos Amaral

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8 comentários em “Melt 2014: sim, eu fui a um festival sozinha!”

  1. Allan de Oliveira

    Bruna, eu também tinha medo de fazer coisas sozinho até eu fazer meu intercâmbio para Alemanha em 2010-2011. Antigamente, eu me negava a ir em um show ou no cinema sozinho. O intercâmbio modificou essa minha visão. Fiz meu mochilão sozinho e foi uma das melhores experiências da minha vida. Fiquei curioso pelo festival.

  2. que bom que você foi mesmo sozinha,
    que perfeito você mora em Bonn!
    Eu fiz intercâmbio para Alemanha por um ano em 2010-2011 e morei também pela região, em Rheinbach/meckenheim! 😉 Bonn e Köln são as melhores cidades da Alemanha hehehe
    Fui no rock am ring e o pfand era 1 euro (2011) 😛

    E só pra te encher mais um pouco! Ainda espero o FARO II hehehe :3

    1. Jessica! hahahaha não é encher nada! tenho que postar isso ainda. No fim das contas, surgem outras coisas na frente e eu meio que me atrapalho hehe.
      Gosto bastante de Köln/Bonn <3
      Que intercâmbio você fez por aqui? beijo!

  3. Ahhhh, adorei! Fiquei super curiosa para ver esse melt de perto! 😀
    Seu blog é ótimo! Tem me ajudado bastante nessa procura por intercâmbios! Obrigada por compartilhar tanta coisa! =)

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Quem faz?

Bruna Passos Amaral é jornalista, viajante, entusiasta da educação e apaixonada por idiomas. Na bagagem, são nove intercâmbios – dois nos Estados Unidos, seis na Alemanha e um na Finlândia – e passeios por diversos países. Participe, mande relatos, perguntas ou sugestões. Os comentários no site são sempre respondidos!

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